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Quando eu abri os olhos pela manhã, não poderia supor que meu dia seria tão diferente dos outros. Se eu não estivesse tão descrente do que estaria prestes a acontecer, arriscaria dizer que não seria surpresa alguma.

É que à certa altura da vida você inconscientemente constrói barreiras que lhe impedem enxergar o obvio, aquilo que está à sua frente.
Sua intuição insiste em descortinar sua visão, abrir a sua mente e preencher seu coração, mas a razão, desconfiada e medrosa, afugenta-a deixando-lhe muitas vezes à deriva.

Abri a porta do escritório e entrei na minha sala. Já não mais lembrava da aposta. Talvez tenha sido conveniente para mim esquecê-la, pois assim eu não precisaria lembrar dos desdobramentos.

E então estava transcorrendo tudo normal, tudo monotamente normal até que o som da campainha quebrou o silêncio de uma tarde de sábado.

O sobressalto durou pouco tempo. Em uma fração de segundos veio à mente o compromisso ingênuo firmado entre dois colegas de trabalho que de repente resolveram brincar com fogo. Lembrei da aposta e, em decorrência, lembrei de quem provavelmente estaria por de trás da porta.

A boca secou e o coração disparou. Nesse instante a intuição escanteou a razão e eu sabia que a partir do momento em que eu abrisse a porta tudo mudaria.

Um perfume delicioso entorpeceu os meus sentidos.

Sua pele era branca feito neve. Os olhos verde-mar vieram na minha direção sob esvoaçantes cabelos dourados.

Não deu tempo para pensar em mais nada. Eu não queria pensar em mais nada.

O gosto era compatível com o cheiro.

Uma carga elétrica de sentidos abraçou os dois corpos que se beijavam e se pegavam como se não existisse nada além daquele instante.
Os corações batiam em uníssono. As pernas trêmulas sustentavam-se umas nas outras.

A sala iluminou-se como se fossemos as únicas duas criaturas do planeta e estivéssemos sob um céu em pleno Réveillon, em Copacabana, explodindo em fogos de artifícios.

Voltar atrás não era mais uma opção. Na verdade, não havia opção, senão entregar-se e viver.

A aposta, até certo ponto despretensiosa, que me fez desafiá-la por um beijo feita em um dia corriqueiro de trabalho, foi o estopim para que eu pudesse viver uma grande paixão e o maior amor da minha vida.

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