Recentemente fiz dez sessões de fisioterapia em cada joelho, comprometidos por uma incomoda artrose que sorrateiramente tenta se instalar por outras partes do meu corpo. Foram dias alternados, mas que felizmente passaram bem rápidos. Apesar de o tratamento se intrometer entre os compromissos de uma agenda sempre muito apertada, aquilo que seria um fardo em razão do deslocamento e dos quarenta minutos com as pernas esticadas submetidas ao ultrassom, luz vermelha e pequenos choques acabou servindo para uma pausa na rotina diária.
Não tive nenhum contratempo, por assim dizer, exceto pelo enfrentamento do trânsito sempre caótico no Rio de Janeiro. A bem da verdade, nem mesmo esse importuno foi sentido.
Há alguns dias ouvi uma crítica de uma pessoa que estava fazendo um tratamento parecido com o que fiz, na mesma clínica. Ela referiu-se ao recinto em que as pessoas são destacadas para receber a fisioterapia. O local acomoda umas oito pessoas, cada uma em sua maca e em determinada posição. A queixa era referente ao barulho. Pacientes e fisioterapeutas conversavam entre si em um tom impossível de não serem notados.
Ao ouvir a queixosa repassei minha passagem por aquela clínica e dei-me conta de que em nenhum dia, dos dez, passei por algo parecido. Ao contrário, foram momentos proveitosos que serviram para ler algumas coisas, responder e-mails ou simplesmente escutar música.
Ao terminar o meu raciocínio logo entendi a razão de ter tido uma experiência diametralmente oposta à daquela pessoa. Meus inseparáveis fones de ouvido proporcionaram-me o livramento de não ser importunado por nenhum outro som além daquele que por minha livre escolha resolvi ouvir.
Esse acessório tornou-se um elemento primordial na minha vida e vale cada centavo do seu investimento. O restaurante está sempre agradável, o som do Uber jamais atravessa o meu gosto musical e o atrito do trem do metrô com a ferragem não é notado.
Não consigo conceber um mundo em que existam gargalhadas do grupo vizinho à sua mesa na hora do almoço ou cânticos em homenagem ao aniversariante com um quase interminável: “parabéns para você”.
Hoje em dia, prefiro esquecer a carteira aos fones de ouvido. Um acessório indispensável.